Eu e uma amiga, que imaginava estar  interessada num senhor ator, fomos a um ritual xamânico num sítio. Minha  amiga tinha as razões dela. Eu entrei de gaita [sem expectativas  e desconcentrada, eu não imaginava o que me esperava]. De qualquer  forma, estávamos em busca de alguma coisa que nos tocasse a alma, os  lábios, os seios ou, ao menos, os cabelos. Chegamos ao sítio, em Miguel  Pereira, Rio de Janeiro. Lá, encontramos o ator, seus amigos [também  seguidores das tradições xamânicas], um cacique importado dos Estados  Unidos e um grupo de dez mulheres [comigo e com ela, doze]. Sentamos no  chão, acendemos incensos e começamos a ouvir as instruções do cacique. O  ritual se chamava “tenda do suor” e, naquele dia, só mulheres  participariam. Só as fêmeas entrariam na oca com pedras incandescentes e  com o cacique, para suar por três horas seguidas e purificar a alma. Os  outros homens, por motivos que não me lembro nem quero pesquisar,  ficariam do lado de fora, tentando absorver a energia que nós, mulheres  suadas, emanaríamos naquela situação inédita. Assim que ouvi o resumo da  história e vi o tamanho da oca, levantei meu dedinho e disse: “Steve  [nome do cacique], eu sou claustrofóbica. Gostaria de ficar perto da  porta de saída e ao seu lado, se possível. Não quero atrapalhar o  andamento do ritual. Se eu não suportar, saio e vocês prosseguem”. Minha  humildade foi vista com bons olhos [foi ali que eu descobri que a  fragilidade, quando não muito forçada é afrodisíaca]. Na verdade, Steve  ouviu meus pensamentos, ouviu as batidas do coração que pulsava entre as  minhas duas pernas e, sem abrir a boca, dizia: “Esse calor todo não vai  esquentar minha alma. Você e esse seu pau [porque escrever pênis é de  matar] me curariam de todos os males”. Conforme combinado, quietinha,  sentei-me ao lado da porta de saída [que tinha menos de um metro de  altura] e colada no cacique, que a cada instante, ficava maior e mais  bonito. Ele tocava um tambor e jogava umas ervas nas pedras  incandescentes que ficavam no centro da oca, num buraco. De cócoras, eu e  as outras começamos a sentir a pressão do ritual [que hoje, numa versão  light, já fazer parte de workshop para executivos  apagados]. O calor aumentava e a mulherada começava a se descontrolar.  Me lembro que antes da entrada, eles [os machos] falavam sobre o  despertar de um animal existente em cada um de nós. Em mim, brotou um  cachorro [uma cadelinha] fiel. Do lado do Steve [apesar do nome],  eu jamais sairia. Ao meu lado, minha adorada amiga, já com os cambitos  assados, cochichou no meu ouvido: “Força! Eu não saio daqui nem  amarrada”. Eu, de bracinhos dados com o chefe da cerimônia, disse:  “Fique tranqüila. Já estou de quatro pelo cacique”. Ela deu uma  gargalhada típica de quem me conhece e já esperava que eu inventasse um  súbito amor para superar o calor que vinha de fora usando as forças do  que vinha de dentro. Depois de algumas horas de sufoco, apenas duas  desistiram e foram prontamente atendidas pelos guardiões, que estavam do  lado de fora, captando as vibrações. Acabado o ritual, saímos de quatro  e fomos direto para um rio, dar um mergulho e esfriar a alma. Enquanto  as mulheres falavam sobre como se sentiram depois da experiência, o  cacique se aproximou de mim, com um sorriso bem sacana estampado no  rosto, me deu um abraço e disse: “Você tem claustrofobia. Eu tenho medo  de água fria”. Sexo suado, sagrado.
Fonte: http://playboy.abril.com.br/blogs/
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