Texto Aline Rodrigues
Quando li o e-mail enviado por NOVA, fiquei sem saber se adorava ou me ofendia. Como em Missão Impossível, dizia lá que minha próxima tarefa - caso eu resolvesse aceitá-la - seria comprar o meu primeiro vibrador, testá-lo e contar tudinho depois. O que me surpreendeu foi terem acertado na mosca ao encomendar essa reportagem justamente a mim: será que estava escrito na testa que nunca usei um vibrador na vida? Decidi, claro, topar o desafio.
Devo confessar que, antes, conversei com várias amigas. Só uma delas conhecia intimamente o brinquedinho, porque ganhou de presente do namorado. Quer dizer, minha inexperiência no assunto não era nada fora do comum. Nem caretice, pois estava cansada de ver vibradores... em motéis. Normalmente, eles ficam no criado-mudo, ao lado da cama. São três ou quatro caixas pretas viradas para baixo com o seguinte aviso: "O conteúdo desta caixa é de teor pornográfico. Se quiser evitar constrangimento, não a vire!" Pra mim é a mesma coisa que dizer: se você é um ser humano com um mínimo de curiosidade, bisbilhote já! Foi o que sempre fiz, e ficava fascinada com os tamanhos variados e as instruções de uso bem safadas. O problema era o preço. E, além disso, sou desconfiada - se comprar uma coisa dessas num motel e quebrar, vou reclamar pra quem? No fim, acabava só na vontade...
E acabei também na mão, mas não do jeito que você está pensando. Uma das amigas com quem conversei sobre a missão fez questão de dizer que me acompanharia no dia da compra. Duas mulheres juntas se sentem mais seguras numa horas dessas, argumentou, e concordei. No dia D, porém, ela teve uma suspeitíssima dor de dente. Assim, lá fui eu sozinha para o Ponto G, uma sex shop na Vila Mariana, em São Paulo, escolhida a dedo: moro do outro lado da cidade, de modo que era mínimo o risco de dar de cara com alguém do tipo dona Emília, a fofoqueira do meu prédio.
Se mesmo assim algum conhecido me viu entrar naquele antro de perdição, não deve ter percebido do que se tratava. Ao contrário do que imaginei, a loja é discretíssima. As vitrines exibem biquínis, lingerie sexy e um ou outro vídeo de sacanagem. Nada capaz de arruinar a reputação de uma moça de família. E pensar que perdi um tempão decidindo que roupa usar para não ser confundida com alguma devassa...
Se você (como eu e como minha amiga que amarelou), por puro constrangimento, ainda não foi a um lugar desses nem que seja só para matar a curiosidade, acredite: ninguém vai reparar ou dar a mínima pra gente. Os dois vendedores - uma moça de 25 anos e um homem de 40 - mal me olharam. Devem partir do princípio, corretíssimo, de que para a freguesia parte do barato é poder fuçar à vontade.
Não sou nenhuma garotinha ingênua, mas meu queixo caiu diante das estantes que cobrem as paredes. Nunca imaginei que existissem tantos tipos de vibrador. De todas as cores (azul, amarelo, preto, roxo, vermelho) e alguns de gosto um tanto duvidoso, como os modelos em forma de um braço e de uma mão fazendo aquele gesto obsceno. Fiquei especialmente fascinada por um de látex super-realista no formato. A gente aperta um botão e o bicho começa a aumentar em todas as direções. Não sei como uma mulher agüenta aquilo!
Segui em frente... e lá estava ele. De gel, tamanho normal, meio rosado, transparente. Você viu aquele episódio de Sex and the City em que as quatro amigas saem para comprar um vibrador e Charlotte, a mais pudica, se apaixona por um que tem um coelhinho que treme na base do pênis? Pois o meu tinha um ratinho. Digo meu porque estava decidida a levá-lo antes mesmo de pedir à vendedora que me ajudasse a ver como funcionava. A garota me olhou com respeito quando viu meu eleito. Além de vibrar, ele girava de um lado para o outro dentro da vagina, com maior ou menor intensidade, funções que você controla pelos botões na base do vibrador.
Percebi que era mesmo coisa fina porque agora ela é quem estava empolgada. Tanto que mandou o outro funcionário trazer três pilhas para ligar aquela maravilha e me dar uma pálida idéia das delícias que me aguardavam. "Pode deixar com as baterias, pronto para usar", pedi enquanto preenchia o cheque e ela colocava o excitante pacotinho numa sacola preta e opaca, pra lá de discreta.
Foi o meu erro. Assim que coloquei o embrulho em cima do balcão para pagar o estacionamento, o danado começou a vibrar feito louco. Não me pergunte como o brinquedo ligou sozinho; só tenho certeza de que o cara do guichê sacou na hora. Deve estar careca de saber a origem das embalagens pretas. E eu, rubra de vergonha, estapeava o pacote em desespero tentando interromper o treme-treme. Foi a maior bandeira.
Fora isso, Mr. Big não me deu nenhum outro dissabor. Achei importante que ele tivesse um nome porque, afinal, íamos ficar íntimos. Resolvi estrear com meu namorado. Os homens ficam excitadíssimos quando a gente aparece com uma surpresa dessas; ainda mais ao saberem que é a nossa primeira vez. Meu querido ficou. Passei a semana inteira atiçando a curiosidade dele, avisando que no sábado levaria uma novidade para esquentar a transa.
No dia d, tomei um banho caprichado, me perfumei, coloquei o Mr. Big na bolsa e lá fomos nós para uma inesquecível noite erótica. Meu homem até já desconfiava do que se tratava, apesar de não conhecer aquele modelo. Engraçado que o simples fato de o Mr. Big estar ali, ao lado da cama, criou um clima mais carregado de safadeza. Nem precisei pedir, meu amado tomou a iniciativa de me fazer descobrir as delícias da nova aquisição. A tal da rotação é estranha e pode até incomodar se o vibrador não estiver bem lubrificado. Já o ratinho no clitóris... É uma coisa de louco! Entendi na hora por que a Charlotte ficou fissurada.
O melhor de tudo é que o homem fica alucinado porque é ele quem está dando todo aquele prazer pra gente. Achei que meu namorado ia ter um orgasmo de puro voyeurismo. E tem outra vantagem: você pode usar seu Mr. Big nele, excitando os mamilos, a cabeça do pênis, tudo quanto é lugar que a imaginação mandar, como eu fiz. Quando não dava mais para segurar, deixamos o vibrador de lado e gozamos juntos.
Quer saber? Assim que nos recuperamos, abrimos uma garrafa de vinho e brindamos à NOVA por ter me escolhido para fazer essa reportagem. O Mr. Big é bárbaro. Esquenta o relacionamento, ajuda o casal a conhecer melhor o próprio corpo, desperta a gente para mil sensações novas. E não há perigo de você se viciar, se lembrar que não existe máquina capaz de substituir beijos no pescoço, sussurros no ouvido, um olhar apaixonado e braços onde a gente se aninha satisfeita da vida.
Fonte: http://nova.abril.com.br/edicoes/377/fechado/amor_sexo/conteudo_87272.shtml?pagina2
Fonte: http://nova.abril.com.br/edicoes/377/fechado/amor_sexo/conteudo_87272.shtml?pagina2
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Todo e qualquer um que postar comentarios aqui no blog, devem ter prudência com as palavras, não ofender a moral alheia e nem fazer acusações infundadas. Os visitantes que comentarem as postagens são responsaveis por seus proprios atos.